Terry OK

-Terry? Terry, é você mesmo?

-Desculpa, dona... acho que a senhora me confundiu com outra pessoa – ele fala enquanto enterra o boné na cabeça e coloca o capuz do moletom por cima e continua andando.

Não tem sido muito frequente após Terry ter atravessado o país, mas as vezes acontece de alguém de seu passado aparecer.

Cerca de um ano e meio atrás Terry acordou no meio do mato, nu. Desnorteado e sem saber quem era, a polícia o recolheu. Terry estava sumido há 3 semanas, sem ter ideia de onde esteve, de onde estava ou de quem era. Sua família logo foi avisada e em pouco tempo Terry estava de volta em casa. Os médicos disseram que era questão de tempo até sua memória voltar, mas não sabiam dizer o por que ela tinha sumido.

Primeira noite em casa. Quarto estranho, cama estranha. O rosto era o dele nas fotos (junto com aquelas pessoas todas), mas ele não reconhecia nada. Questão de tempo, disse o médico... o melhor a fazer era deitar e tentar descansar. Os próximos dias seriam longos.

Em meio à escuridão, lampejos de luz. Uma luz azulada e forte. Brilhos e reflexos metálicos. No meio dos clarões Terry consegue ver várias pessoas ao seu redor. Altas e de uma magreza estranha. Algumas se aproximam e Terry consegue ver: não são humanas! Assustado ele tenta se levantar, mas está preso em uma... espécie de maca? Quatro desses estranhos seres se aproximam cada vez mais. Cada um deles com alguns instrumentos que parece saído de uma sala de tortura. Cada vez mais perto. E as coisas nas mãos deles começam a se mexer e a girar e a fazer um barulho assustador e...... num surto de adrenalina, Terry rompe uma das amarras em seu pulso e consegue segurar a criatura pelo pescoço. E ele aperta com toda sua força. Ele então ouve um grito. Grito que não parecia sair da boca de nenhuma daquelas coisas, mas que parecia estar dentro de sua cabeça. De repente tudo a sua volta muda. Ele está naquele quarto estranho, mas seu captor encontra-se em suas mãos. Ele sente o pescoço entre seus dedos. Ao encarar a coisa, Terry percebe que não era o ser magro e esbranquiçado.

-P-p-pai?!?

Naquele momento de consciência ele sabia quem era e que aquela era sua família. E que aquele cujo pescoço era esmagado por ele era ninguém menos senão seu pai.

O velho sobreviveu. Ele viu na TV dias depois. Desde que acordou enforcando seu pai, Terry nunca mais voltou pra casa. Assustado e sem saber direito o que estava acontecendo, ele se atirou pela janela e correu pra longe da casa em Los Angeles. Ele sabia que não podia voltar.

Os dias foram passando e Terry foi se mudando de cidade em cidade, fazendo trabalhos simples aqui e ali pra garantir o que comer e onde dormir. Ele sabia que estava diferente. Mais violento, mais rápido e mais forte do que se lembrava (embora não lembrasse de praticamente nada do que tinha sido). Ele reconhecia alguns rostos (mas não nomes) nas suas andanças e então sabia que era hora de se mudar novamente.

Uma noite, enquanto trabalhava de barman num boteco de beira de estrado, desses bem frequentados... muitos motoqueiros barra pesada e coisas do tipo, ele se envolveu numa briga tentando proteger uma das garçonetes. Ela estava praticamente em vias de ser estuprada no próprio pátio na frente do bar.

No meio de cerca de 10 motoqueiros enraivecidos o espancando, Terry sente um ódio tremendo e uma sede de sangue que nunca tinha tido antes. Quando percebe, seu corpo está todo coberto por uma carapaça insectóide e os golpes não o ferem mais. Os tacos se quebram, as facas entortam e as balas... bem, as balas também não pareciam problema. Terry esmagou a cabeça dos dois primeiros como se fossem melões podres. Os outros que sobreviveram foram desmembrados. Terry só se deu conta do surto depois que quase matou a garota que estava tentando salvar.

Depois desse dia ele evita ficar muito tempo em só lugar. Sempre sozinho. Sempre fugindo. O controle sobre aquela armadura melhorou com o tempo e ele sabe que pode ajudar as pessoas. Mas no momento ele quer é ajudar a si mesmo, ficando escondido e não se metendo em encrencas.

Atualmente ele se encontra no Nebraska, seguindo sua peregrinação rumo nordeste dos Estados Unidos e depois seguir norte, provavelmente até deixar o país.