O Medo

Relembrando a primeira mensagem :

Ailhiet Wang
Você está terminando de tomar seu desjejum em sua residência em Ansonne, quando alguém bate à porta.

- Jesuíta é? Não sei de nada mais importante que espalhar a palavra de Deus para quem não a conhece. Deve se orgulhar de seu primo.

Faço uma pausa e continuo...

- Por coincidência, fui criada numa missão jesuíta não muito longe daqui. Não optei por seguir aquela vida religiosa e disciplinada, mas aprendi muito com os missionários.

Quando digo "aprendi muito", faço alusão ao meu cajado, que por sua vez quer dizer "mágica".

Fico intimamente satisfeita por Saint-James ter um primo jesuíta. Me leva a crer que ele não tenha a desconfiança da maioria em relação à Companhia de Jesus, permitindo-me dizer mais tarde, como fachada, que nossos assuntos em Sauvons decorrem de um favor a um missionário. Isso por que minha longa (e real) vivência entre os jesuítas deve me prevenir de entrar em contradição.

Compelida por força maior, serei mais uma vez forçada a misturar verdades com mentiras, tal qual o diabo - ou sua servente que sou. Depois poderei buscar conforto em meus exercícios espirituais, rezando pelo perdão de nosso senhor por minha alma pecadora - como tantas vezes fiz e por pecados bem maiores.

- Já que mencionou riquezas, aqueles marcos de ouro não vão cair sozinhos em nossos bolsas. De minha parte zarpamos agora, ou o mais breve possível, o que acha?

Ao final do almoço, pago as refeições e convido Saint-James a acompanhar-me até o porto.

Ele concorda silenciosamente e a segue.

Antes de sair, amasso, rasgo o anúncio que eu havia feito e jogo no lixo (ou no chão da rua se não houver lixo).

Sigo finalmente com Saint-James até o porto, onde pergunto a quem pareça mais ambientado, sobre quais navios estão de partida para Sauvons. Procuro o capitão ou responsável por cada um dos respectivos navios, caso me sejam indicados, e pergunto quanto custa levar uma pessoa até Sauvons. Em seguida pergunto quanto pode ser feito de desconto no preço para levar duas pessoas.

Na caminhada rumo ao porto, Saint-James não conversa muito, mas fala um pouco, continuando os assuntos ditos na taverna:

- Durante os meses que viajei com meu primo não aprendi sobre ser um homem de fé nem me envolvi muito com os segredos dos jesuítas, mas suas palavras sábias e humanas fazem falta. Pelo bem da tripulação, fui mais útil brandindo espadas do que aprendendo coisas...

Saint-James pôs a mão no cabo de sua espada, fazendo referência ao gesto de Ailhiet com o cajado.

- Quanto à partida, não faço qualquer objeção.

Ele então volta a ficar quieto. Você procura e pechincha entre os barcos. Depois de alguma pesquisa e negociação, achaste um cargueiro que aceitou levá-los por $33, junto com a carga (dá para atar uma rede). 15 dias de viagem até Sauvons, com 4 escalas pelo caminho. Foi o mais barato que encontraste nessa primeira procura.

- Bom, (esgrima) me parece uma habilidade tão útil quanto qualquer outra.

Respondo, sendo simpática, e terminamos nossa caminhada em silêncio, já que também me calo. Já no porto, depois de negociar, a oferta da viagem de cargueiro por $33 me parece satisfatória. Apesar de 15 dias me parecerem uma eternidade, lembro-me de que é o quanto viagens assim demoram. Nesse tempo o cetro de sangue não irá a lugar algum, afinal. Ou assim espero. Entrego as moedas ao encarregado das passagens e me acomodo com meu parceiro de viagem assim que possível.

Durante a viagem, conto a Saint-James o que vinha há algum tempo elaborando, sobre os motivos e objetivos de nossa missão. Evidentemente espero ter certeza de que estamos a sós.

- Finalmente, parece-me o momento certo para pormenorizar-lhe nossas incumbências, meu caro Saint-James. Bem, um antigo artefato foi roubado de um templo jesuíta por orcs detestáveis. Mas depois, foi novamente roubado deles por elfos do mar malignos. O artefato aprisiona um antigo mau, os livros da igreja não deixam claro se se trata de uma praga, demônio ou maldição. O fato é que ele não deve ser destruído, ou libertará o mau, tampouco deve permanecer nas mãos erradas. Somente no templo de onde foi roubado existem condições de guardá-lo, impedindo-o de causar o mau. Apenas quem sabe onde fica o templo são alguns homens santos, imunes aos efeitos do artefato.

Respiro fundo, revisando mentalmente minha versão dos fatos, e então continuo.

- Trata-se de um grande rubi vermelho encrustado num cetro dourado. Tão maligna é sua presença que está sempre em pé a verter sangue. Com o tempo, o cetro fica envolto numa fonte de sangue. Espero que tenhas temperança, homem de armas, pois o diabo te tentará, como tentou a Jesus no deserto. Você terá que ser forte de espírito. O mau abrigado no cetro seduz seu portador com saúde e força, mas corrompe-lhe a natureza e de todos que por muito tempo se expõem a sua presença. As notícias são de que os animais a sudoeste de Araterre vêm apresentando agressividade fora do normal. Segundo meu amigo, um jesuíta que me enviou nessa missão sagrada, isso não deve ser mera coincidência. Agora você entende, meu caro, o motivo pelo qual estamos indo para Sauvons. Temos que reaver o cetro que os elfos roubaram, resistir as tentações e devolvê-lo para seus legítimos guardiões. Não me disseram como encontrá-los, o provável é que, em vez disso, eles nos encontrem. Estarão esperando em minha casa em Ansonne?

Ao mencionar isso, começo a pensar no problema logístico que só agora me parece óbvio.

- Espero que não, se assim fosse eu questionaria a prudência de refazer de volta, com o cetro a nos provocar, todo o demorado percurso. É bem possível que os guardiões nos encontrem em Sauvons, afinal. Pelo menos isso me parece mais sensato.

Típico de meu mestre, dar-me as ordens e deixar que eu me remoa nos difíceis detalhes de como cumpri-la. A ideia de mandar um mensageiro como garantia, relatando que tentaríamos fazer a entrega em Sauvons, começa a me bater à mente. Mas desisto ao considerar que meu mestre pode simplesmente não querer que eu saiba de antemão onde vai estar. Ele deve ter vivido centenas ou milhares de anos, afinal, justamente por esse tipo de precaução. Por mais soberbo que Ele seja, não duvido das lendas sobre outros iguais a Ele que encontraram o fim por intermédio de exércitos humanos. Talvez o melhor a fazer seja mesmo confiar na infinita perspicácia de meu mestre, que não perderia de vista uma questão simples sobre a entrega do artefato.


- Não se preocupe com isso, Saint-James, não é algo com que devemos nos perturbar. Assim que recuperarmos o artefato, os guardiões não demorarão a aparecer. Por fim, resta-lhe alguma dúvida sobre nossa cruzada?

Saint-James parece estar motivado com tal missão. E responde:

-Embora não vislumbre riquezas nesse caminho, como minha boa senhora sugeriu, acredito que essa demanda é algo que deve ser feito e você pode contar comigo. Se tal artefato existe, ele deve ser destruído ou banido para um lugar onde seu mal não possa atingir ninguém.

- Fico feliz em ouvir isso, estimado companheiro, nunca poderei duvidar de seus nobres ideais. Juntos retornaremos o cetro maligno aonde não mais poderá fazer o mau a ninguém!

Respondo ao guerreiro, e colocando uma mão em seu ombro, completo:

- Mas não seja pessimista quanto as riquezas em nosso caminho. As mais valiosas posses encontram-se muitas vezes onde não as esperamos, não é esse o princípio por trás de esconder algo como um tesouro? Decerto os elfos do mar não terão somente saqueado um grupo de orcs, e se forem malignos como parecem, justiça nenhuma, do céu ou da terra, poderá condená-lo por reclamar seus pertences.

Durante a maior parte dos quinze dias de viagem, me ocupo de orações, treinamento mágico e de minha subsistência. Durmo nas redes na área de carga caso disponham-nas a nós. Tento não comer a comida que eventualmente me ofereçam no navio, a não ser que seja a única disponível e mesmo assim, espero disfarçadamente que Saint-James a prove primeiro. Divido minhas rações com ele e também pergunto-lhe se sabe e se pode pescar para nós, em caso positivo me encarrego de assar os frutos do mar sem precisar de fogueira, usando a magia Calor.

Todos os dias converso educadamente com meu parceiro, até puxo assunto com ele, mas evito diálogos muito longos - assim evitando uma maior proximidade. Me permito gostar dele, se ele se mostrar um bom sujeito e reparo melhor que ele é atraente. Mas a não ser que seja inevitável, apaixonar-me está fora de questão, dado meu estilo de vida, os votos que fiz, e minha maturidade emocional. Como para com todas as pessoas, também confio nele bem menos do que demonstro.

De qualquer maneira, à medida que conheço Saint-James, vou me sentindo um pouco culpada pela parte de nossa missão em que eu o engano. Ainda assim, sabendo que não tenho escolha, passo longe de revelar qualquer segredo. Sinto que minha dívida maior é para com Deus, por isso rogo quase todos os dias por seu perdão, em minhas orações silenciosas. Num certo dia choro escondida ao lembrar de minha mãe e de minha vida em Bilit, olhando para meu amuleto e deixando cair lágrimas sobre ele.

Ele responde:
-Pelo Cristo, agora sim esta missão tem todo meu entusiasmo! Aos elfos do mar e aos tesouros que encerram!

Sorrio para Saint-James, consentindo.

No restante da viagem, faço como descrevi acima.

Nada de muito relevante ocorre nos próximos dias. Até que, após duas noites e um dia de viagem, vocês chegam no próximo porto, Mallory. O sino da igreja local badala 9h00min da manhã.

Olho Mallory em meu mapa assim que percebo termos chegado a um porto e não me animo muito ao constatar que estou agora mais longe de Sauvons do que quando parti de Ansonne. Mas aproveito para fazer uma caminhada prazerosa em terra firme e conhecer a cidade, contanto que o navio fique atracado com muito tempo de sobra para isso. Não faço objeções caso Saint-James esteja por perto e queira acompanhar-me.

Durante a viagem, Saint-James procurou ajudar a tripulação e atuar como um guarda costas de Ailhiet. E fez questão de lhe acompanhar ao descer em Mallory.

Mallory é uma das cidades mais antigas e, ainda assim, das mais atrasadas em Araterre. A cidade toda tem uma aparência de velha e atrasada. Há várias barracas com vendedores pela orla.

Saint-James puxa assunto com um ou outro atrás de notícias. Mas não há muita coisa. A notícia mais recente é de alguns meses atrás. O filho do senhor de Sigognac, uma propriedade em outra parte da ilha, assassinou o próprio pai e depois fugiu.O nome do sujeito é Frederic e o primo, que acabou herdando a propriedade, ofereceu 3 moedas de ouro de recompensa pela captura do primo parricida.

Saint-James comenta sobre o caso em Sigognac com Ailhiet e finaliza, demonstrando certo rancor, ressentimento e ansiedade na voz:
- Um homem que não honra seu sangue merece o castigo que lhe convém.

Nesse momento, a tripulação do barco onde vocês vieram acena pra vocês.

- Bem, parece que não teremos tempos de fazer nada a respeito, por enquanto. Vamos voltar.

Resolvo, sinalizando com a cabeça para Saint-James, em direção ao navio e aos membros da tripulação.

- Muito encorajo sua atitude de acompanhar-me, meu caro. Assim olhamos as costas um do outro, não é mesmo? Sobretudo longe de casa, não podemos nos dar ao luxo de baixar a guarda.

Comento com Saint-James enquanto caminhamos de volta ao navio, indicando que também sou capaz de protegê-lo, depois de notar sua super-proteção e presunção de minha indefensibilidade. Cheguei a me perguntar quando veria sua previsível demonstração masculina de cavalheirismo. A satisfação de minhas expectativas foi curiosamente maior que minha indignação enquanto maga poderosa sendo subestimada.

Ele parece um pouco desapontado:
- Certamente.

Se houver algo que pretendes fazer durante o próximo trecho da viagem, descreva.

Ao reembarcar, procuro saber com os membros da tripulação sobre Frederic, o filho do senhor de Sigognac. Não custa nada investigar, já que uma recompensa seria muito bem vinda em minha atual situação financeira. No mais, procedo em tudo como anteriormente descrito (Ver postagem de Sex Mar 14, 2014 3:42 pm)

Role dissimulação.

Repetindo: Role dissimulação.
Saint-James responde que sabe sim pescar.

Ele responde:
-Certamente, minha senhora. Mas não precisa que tu suje as mãos, pode deixar: eu providenciarei o peixe e farei um cozido para nossa refeição, tudo bem?

Ele passa uma hora pescando mais ou menos enquanto lês algo. E lhe trás dois belos peixes, suficientes para uma refeição para cada.
-Eis nosso desjejum, minha senhora. Espero não estar atrapalhando uma leitura muito importante.

Tu aceitas de forma amigável e amável, mas continua lendo o livro.

Durante a viagem, Saint-James passa o tempo de forma reservada. Geralmente ele se manifesta para saber se Ailhiet esta confortável e tenta mantê-la assim. Ele ajuda em algumas tarefas da tripulação. Ocasionalmente fica entediado e interage com os tripulantes em jogos de azar.

Após alguns dias em uma viagem tranquila, vocês chegam a uma nova cidade. A cidade é uma cidade pequena, mas de aparência agradável. Os moradores parecem animados com a chegada do barco.

Um dos marinheiros comenta:
-Aqui é São Frederico. Eles não têm muitas coisas aqui, têm basicamente o que comer e o artesanato que fazem. Qualquer coisa mais elaborada vem de fora. Quando chegamos é a oportunidade que ele têm de trocar o que eles fazem por alimentos mais variados, ferramentas e outras coisas que eles queiram ou precisem. Bem, chegamos. Não tem muito o que conhecer aqui, mas podem comer alguma coisa e comparar um artesanato. Ou pelo menos esticar as pernas se quiserem.

Saint-James dá uma checada se Ailhiet está precisando de alguma coisa e então avisa que vai dar uma volta para esticar as pernas.

Depois de algum tempo, Saint-James retorna ao barco. A cumprimenta respeitoso e pergunta:
- Minha senhora. Está tudo bem? Ainda demorará muito para que esta viagem chegue ao fim? Não que esteja reclamando, eu gosto do mar, mas esta jornada esta começando a me dar nos nervos. Não sou um marinheiro ou pescador, sou um espadachim. Minha espada está sufocando dentro da bainha.

- Lamento desapontá-lo meu caro Saint-James, mas parece que teremos ainda duas paradas. Acho que estamos dentro do tempo previsto, mas mesmo que não fosse assim, somos meros passageiros, não podemos afinal nos amotinar ou algo parecido. Tudo o que nos resta então é esperar e esperar. Não existem atalhos fáceis, teremos levado ao todo, pelo menos quinze dias para chegar, nenhum dia a menos. Assim são viagens como essa, que cruzam tão longas distâncias. Mas tudo isso será compensado! No mais, pode me tratar por senhorita.

Respondo categórica, e no fim com um riso largo. Sigo com minha rotina no navio, enquanto segue a viagem.

Saint-James não consegue esconder a frustração e a expressão carrancuda que segue:
- Jesus Cristo! Quinze dias?

Mas quando Ailhiet ri, ele fica envergonhado, depois acha engraçado e desaba na gargalhada, também, pedindo desculpas.

E então vocês partem. Sem muita escolha, Saint-James vai seguindo os dias da viagem, olhando o mar, pescando... E ocasionalmente extravasa essa frustração convidando algum tripulante para um combate amistoso, para exercitar suas habilidades.

Após mais alguns dias de viagem, olhando pela beirada a estibordo, você vê uma cidade claramente maior do que a anterior, mas claramente menor do que Ansonne e Mallory. Mas a você parece que o navio vai passar direto por essa cidade.

Você continua lendo após ver o navio passar pela cidade. Ao longe pode ver Saint-James conversando com algum dos marinheiros. Pouco tempo depois, você se assusta com o som de um chifre sendo tocado.