Aquém do Além

Os últimos tempos tem sido calmos, calmos demais.

Uns dias é sóandar pela varanda fazendo uma carne na churrasqueira enquanto toma uns uísques, outros você sai pro Garage [ponto de encontro de roqueiros do RJ] pra arrumar umas brigas na base do esporte, cantar mulheres e conduzir surubas de porteira fechada nos puteiros de lá, outros liga pra garotas de programa de alto luxo passarem um fim de semana em seu AP. Algumas vezes você sai por aí de short velho de futebol, camisa da campanha do Eneias, chinelo de dedo e óculos escuros que fazem você andar pelo sol à  pino enxergando a noite pela sua frente para ir em feiras de pulgas, comprar quantidades colossais de bebidas e charutos cubanos, comprar comida congelada de restaurantes bons para quando der preguiça de pedir delivery.

Não podia ser PIOR.

Ontem quando chegou no prédio tinha uma festa de criança acontecendo no saguão que você percorre pra ir até o elevador. Uma moça jovem de prancheta que parecia estar coordenando o evento perguntou se você era o Mágico. Um risinho maligno pode ser visto em você acompanhado de um pensamento: "por que não?"

O que se seguiu foi um show de horrores: você enfiou pregos no nariz, engoliu cacos de vidro, atravessou espadas pelo corpo (sem entrar no cesto) para horror de todos. Daí­ o Mágico de verdade chegou e alguém gritou "Pega!" enquanto você examinava o coelho e tentava pensar em algo criativo pra fazer sem machucar o bichinho.

Só restou correr ate o hall com incrível velocidade e entrar no elevador privativo, quando baixou a adrenalina você viu que o coelho estava no teu colo todo esse tempo e parecia feliz enquanto mexia o focinho e coçava a cara.

O jeito é adotar, não?

Quando parou no AP você deixou ele no chão e ele saiu saltitante explorando a casa nova, catando cacos de pizza velha pra comer. Então você afundou no sofá, colocou algo na TV e apagou.

A campainha toca. Saindo do seu elevador tem uma antessala com três portas uma vai pra cozinha, outra na sua suite e a da sala, nessa antessala é que tem a campainha. Quase ninguém usa pois seu elevador é privativo e, normalmente, contactam por interfone.

Levanto mal humorado, se o coelho estiver a vista faço um afago nele e me dirijo a porta. abro sem perguntar quem é mas enquanto faço falo alto na esperança de criar desconforto em quem está do lado de fora:
- Alguém na portaria está precisando tomar uma surra por deixar subirem sem apertar o interfone!

O coelho parece se alegrar com o afago, ele segura sua mão, inspeciona e crava os dentes no seu dedo com força. Você acha isso o máximo e pega ele no colo.

A pessoa que tocava para e fala lá do outro lado:

- Perdão, senhor. Acredito que tenha algo que vai interessar muito

Abro a porta com o coelho no colo e falo com voz amigável e sorrindo, enquanto dou uma medida no visitante:
- Se não for interessante, você vai jantar o dedo dele, tá bom Caerbannog?

É um cara alto e pálido usando um terno barato. Ele te entrega um amarrado cheio de cartas, pigarreia e fala

????? escreveu:

Seu porteiro pediu pra entregar mas não é isso que vim fazer aqui!

É que represento pessoas que souberam de suas qualidades e querem pagar bem por seus serviços.

[Tira um envelope do bolso e estende para você]

Me orientaram a te compensar por esse transtorno e pedir que compareça no local especificado aí.

Posso ir embora?

O cara está visivelmente cagado de medo, tu não sabe se ele é pálido mesmo ou ta passando mau só de ter te visto

????? escreveu:

E... Desculpa mas seu coelho... Ele tá com fome

Foi ousado mas parece que o rapaz ta preocupado mesmo com o animal

- Obrigado pelas correspondências.
Pego o envelope, coloco o Caerbannog no chão e abro pra ver o conteúdo. Antes de dar uma resposta pro cara.

Tem uma carta com um endereço, próximo a Cinelândia na praça da Fundação Biblioteca Nacional e um cheque administrativo de quinze mil reais endossado à você. A carta especifica que apareça no local ao cair da noite nos portões do prédio do edifício que fica no meio de lá.

[Eu esqueci o nome do lugar agora mas é onde tem uns jardins do Burle Marx e um "centro cultural"]

Enquanto você examina o cara já refeito do primeiro baque agacha pra brincar com Caerbannog

Coloco o cheque no bolso corriqueiramente enquanto respondo:

- Gostei de você, Lurch! Pode ficar com o seu dedo e tenha uma boa tarde.

Puxo gentilmente o coelho pra dentro da porta com um dos pés e fecho a porta com o magrão pra fora.

Que horas são? Se der tempo vou colocar uma roupa mais apresentável, passar na minha agência depositar a grana e ir pro tal endereço. 
Caso esteja passando das 16h eu escondo o chegue no ap, troco de roupa, acendo um charuto e vou de moto (sem capacete, claro) pro endereço em questão.

"Nota mental: preciso comprar umas cenouras e repolho pro Caerbannog, o coitadinho não vai sobreviver só de azeitona nas reentrâncias do sofá."

É cedo, dez da madrugada ainda.

Você olha a pilha de cartas que o porteiro não vem mais te entregar depois que levou uns sopapos à duas semanas e vê um monte delas, a do topo está escrita "Último Aviso".

Além do mais tem uma lavandeira ali por perto que deixa a roupa zero quilômetro e fazem o serviço em quinze minutos se der uma gorjeta legal. Teu armário até que tem roupas legais mas ta tudo bem zoado você pega algo menos ruim para sair por aí agora, uma roupa mais bacana do cesto de roupa suja pra darem um trato lá, põe essa roupa suja junto com umas cuecas num saco de lixo até ale ficar abarrotado.

Tem um Petshop de madame ali do lado e deve ser legal perguntar alguma coisa sobre coelhos por lá.

Abro a tal carta do último aviso só pra ver se não vão cortar minha energia ou meu wifi e eu ficar sem netflix.

Visto minha calça de lona rasgada, uma camiseta que seria branca se não fosse pela mancha de mostarda uma jaqueta de couro e vou pros afazeres do dia.

- Caerbannog, se comporte! - Faço um afago na frente do rosto dele torcendo por mais uma mordida.


Enquanto desço pelo elevador vou queimando a palma da minha ão com o isqueiro. Só paro quando saio pq preciso de uma das mãos pra carregar o saco de roupa suja.


Já que tenho tempo vou pros meus afazeres do dia - primeiro lavanderia, petshop, banco e contratante misterioso. Coloco a sacola de roupa suja na minha frente sobre o tanque de gasolina da minha moto custom e saio pilotando desconfortavelmente com ela na minha frente.

Cartão de crédito está te acionando, parece que tem outras do tipo também com diversas despesas que você simplesmente esqueceu, propagandas, amostra grátis de um perfume, pedidos de doação pra ongs...

Caerbannog cheira e dá umas boas lambidas até cravar os dentes e tentar mastigar o dedo.

Tu pega um isqueiro Zippo com uma chama de maçarico verde que queima a quase 10 cm e fica se queimando. O cheiro da pele tostando te acalma...

O porteiro já está te esperando com uma Chopper imponente em frente à portaria que ele houvera manobrando até ali quando recebeu o sinal de que o teu elevador estava sendo usado.

A lavandeira é bem pertinho e a moto passa berrando (pois os escapamentos são como trombetas do cramunhão).

Na lavandeira tem um turco no balcão e uma fila de três pessoas.

- Dae Brimo, beleza? 

Me dirijo direto ao balcão passando direto pelo lado da fila e coloco o saco de roupas em cima do balcão.

-Como você pode ver pela minha roupa - aponto pra mancha de mostarda na minha barriga - estou sem roupas limpas e com pressa pra um compromisso importante. Arruma 2 camisas pra mim pra agora agora e o resto pra amanhã, amigão?

Uma tia gorda da fila se irrita.

?????? escreveu:

Meu filho! Que que tu pensa que ta fazendo? Viu a fila não?

Os outros fazem torcida e manifestam apoio.

O tal do turco só põe óculos e continua remexendo na roupa da cliente que já estava manuseando

Abro a palma da minha mão bem perto da cara do balconista, pego meu charuto e apago na palma da minha mão a 5cm de nariz do turco e falo de maneira enfática, mas sem gritar:
- Não fode, habib! Já perdi meu charuto, agora não me faça perder a hora se não VOCÊ vai perder as amídalas! Eu pago o preço extra da urgência, mas não me atrase.

Intimidação 15

Cantarzo efetuou 3 lançamento(s) de dados D6 :

2 , 6 , 3

Você ouve a mulher que chamou tua atenção exclamar um "sangue de Jesus tem poder!", o cara da lavandeira fica meio pasmo e perde a ação.

Um outro turco sai detrás de uma arara de roupas ensacados que devem estar esperando ser entregues num galope, põe duas cestas no balcão ao lado do saco e fala.

Ali escreveu:

Desculba garoto... [dá um "Pedala Robinho" no outro cara do balcão] Ali adende, resolve já. Uma hora, tudo pronto.

E começa a separar roupa colorida e de cor. A cada roupa ele olha o estado e olha para você.

Ali escreveu:

DUAS! Duas horas, tudo prontinho...

[Pesa tudo, coça o queixo]

Trezentos Reais. À vista, desconto

Com uma satisfação crescente, pego uma camiseta preta da pilha e mostro pra ele:
- Essa em 20 minuto! O Resto pego amanhã e pago 270 na retirada. Volto em 20 minutos! Valeu Sahid!

Vou saindo pro pet shop com um sorriso no rosto de ouvido atento pra possível resposta do turco 2.
Penso "esse vai ser um bom dia!"

Enquanto o Salim te atendia o Turco 2 despachou o cliente bem rápido, a tia gorda deixou a roupa com ele na confiança e saiu meio às pressas e o carinha atrás achou melhor fazer o mesmo, depois o Turco 2 entrou por onde Salim saiu. Enquanto você ia embora ele tentou balbuciar algo mas você já foi batendo logo a porta.

A Petshop é a loja vizinha e você já estacionou a moto ali bem entre as duas e à esquerda de dois carros que já estavam estacionados ali. Tem filhote de todo tipo de animal doméstico na vitrine, você brinca um pouquinho ali e vai entrando.

Tem corredores e sessões tipo de supermercado mas você vai direto pra um balcão onde um adolescente emo está registando as compras de um cara. O cara olha pra você e sai correndo (é o mesmo da fila da lavandeira atrás da tia gorda)

Quando ele passa por mim correndo eu falo pro fujão:
- Passar bem, meu amigo!

Olho pro balconista que me lembra o Homem Aranha 3 e fico pensando se isso é um teste. E falo de maneira cadenciada enquanto dou leves batidas no balcão no ritmo da fala:
- Coelho. Comida, brinquedo, banheiro, banho. Vai - aponto pro atendente nessa hora.

Após um longo suspiro pego meu cigarro apagado e acendo de novo e o gosto de queimado dele "reacendido" não ajuda a lidar com o rapazote. Começo a falar soltando uma baforada:

- Não. Eu tenho o coelho. Preciso de comida, um cagador e um brinquedo pra ele. Que seja rápido e indolor pra nós 2. NO FUCKING SITTER.

Vem uma mulher de lá de dentro, usa luvas plásticas e um avental molhado. Se o jogo fosse mais atual teu personagem a apelidaria de Maria Gadu

Ela já chega pisando duro e berrando:

- O que tá havendo?

- Tentei explicar para o seu funcionário duas vezes que eu preciso de comida, cama e banheiro pra um coelho, mas ele insiste em me oferecer uma pet sitter - mordo o charuto aceso, mostrando os dentes - comida de coelho!

Penso com os meus botões: "o Pedro Paulo devia cortar o pau e dar pra essa mulher, pq ela sim sabe por o pau na mesa! Que macho alfa!"

- Mancada hein, Pedro Paulo! - dou um sorriso para a Maria Gadu - muito obrigado, difícil arrumar ajuda competente hoje em dia.

Vou para as gôndolas que ela apontou, seguindo as instruções da macho alfa, torcendo pra ter pelo menos um lugar pro Caerbannog cagar e algo pra ele dormir em cima.